10 de dezembro de 2010


Proucura-se a verdade


Uma amiga minha tem certeza de que está sempre certa. Do conselho para alguém que acabou de terminar um namoro às melhores estratégias para ir bem numa prova: ela tem a chave de tudo. Ou acha que tem, né. Enfim. Outro dia, começamos uma dessas discussões que a gente sabe que não vai levar a lugar nenhum, mas dá o sangue nela (certo, exagerei). Ela, claro, tinha certeza de que estava com a razão, e eu, bem, er… eu também. Discussão vai, discussão vem, e eu me lembrei da placa do cachorro.


Calma, vou explicar. Um dia, eu estava andando serelepe pela rua, quando vi um poste com um desses avisos assim: "Dona desesperada procura seu cachorro, cor tal, nome tal etc". Não sei por quê, logo imaginei que louco seria encontrar uma placa assim: "Dona desesperada procura a verdade, tamanho tal, sobre tal assunto etc". Aí eu mesma ri da minha divagação idiota (tenho várias, ok? Assumo!). Idiota por dois motivos. Primeiro, porque é idiota e pronto. Segundo, porque a verdade não tem dono, né? É muito triste quando a gente percebe isso, mas fazer o quê? Também odeio que chocolate engorde e que chova nos finais de semana, mas as calorias e a chuva estão aí.


É claro que, quando a gente percebe isso (que a verdade não tem dono, caso você não esteja prestando atenção), é normal pensarmos logo em seguida: "Bem, então é a festa da uva! Todas as opiniões são válidas, uhu!" Que dez da manhã é o melhor horário para comer abacate, que namoros devem durar 78 dias, que Deus existe e tem formato de girassol e que todas as pessoas que comem cereal de manhã são volúveis: tudo estaria no mesmo saco. Bom, não é beeem assim, né. Você já deve ter reparado que as opiniões não vêm do nada: tem coisas que as fundamentam.


Um agricultor vai dar um parecer melhor do que eu sobre, sei lá, plantar tomates, e quem se informa terá mais argumentos sobre as eleições do que quem não sabe o que está acontecendo. São opiniões mais bem fundamentadas, digamos, embora isso não signifique que estejam certas. Mas, para complicar um pouco, acontece de as opiniões serem bem fundamentadas para uns, mas não para outros, já que eles usam critérios diferentes para definir qual fundamento vale: o agricultor argumenta usando a técnica, um religioso fala que o melhor é aliar a técnica à oração, uma astróloga garante que não nasce nada enquanto Júpiter permanecer retrógado e um incrédulo diz que não existem tomates e tudo é uma ilusão. Ai, ai! Assim caminha a humanidade: todos brigando pela tal posse da verdade.


Voltando à minha amiga: no fim, não concordamos em tudo, mas chegamos a várias conclusões em comum. Como critério, escolhemos demonstrar racionalmente nossos argumentos: um fala, o outro rebate e assim vai por algumas horas. Que bom seria se fosse simples assim com a humanidade também, né? Mas não dá. São muitas pessoas e muitas opiniões, além de critérios, culturas e crenças diferentes. Quer dizer, isso é o que eu acho. Minha amiga tem certeza de que o mundo só vai levar mais algumas horas, ou melhor, alguns séculos, até tudo melhorar. Aliás, era sobre isso nossa discussão. O que você acha?

0

0 comentários:

Postar um comentário

:a   :b   :c   :d   :e   :f   :g   :h   :i   :j   :k   :l   :m   :n   :o   :p   :q   :r   :s   :t